André Farias de Moura, docente do Departamento de Química do CCET/UFSCar descobriu um material capaz de ficar invisível

Serendipidade. O dom de estar na hora certa, no lugar certo foi o que fez o professor André Farias de Moura, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), dar um novo rumo a suas pesquisas. Ele mesmo explica que durante toda sua carreira procurou trabalhar com simulação computacional realista, mas "por um feliz acaso" assistiu a um seminário do pesquisador Nicholas Kotov, da Universidade de Michigan, que estava na faculdade. Era 2012 e ele estava diante de um craque da nanotecnologia. Moura conta que achou tudo fascinante, mas um dos slides mostrados na apresentação chamou sua atenção.

"Esperei a hora do intervalo para levar minha discordância a ele. Pedi para um aluno buscar um notebook com um modelo que tínhamos feito e, a partir daí, começou a nossa parceria." Desde então, foram inúmeros artigos publicados. Um dos mais famosos revelou a capacidade de um composto de nanopartículas ficar invisível. O estudo sobre o óxido de cobalto sintetizado na presença do aminoácido L-cisteína saiu na renomada revista "Science", em 2018. "Conseguimos deixar um material mais ou menos visível para uma certa luz", explica. "Mas a aplicação disso tem muito mais a ver com saúde do que com uma capa da invisibilidade."

Aplicação

Infelizmente a capa do Harry Potter ainda é um sonho distante, mas a possibilidade de "ligar ou desligar" um material utilizando luz e magnetismo também é bem animadora e de uma importância sem igual. Ele dá um exemplo concreto de como essa capacidade pode ser revolucionária: numa terapia para tratar um tumor, vai ser possível enviar um medicamento até o órgão doente sem precisar causar dano ao corpo no caminho. Será possível "ligá-lo" somente quando atingir o tecido específico. Em terapias gênicas, como a Crispr-Cas9, em que os médicos editam o DNA de uma proteína usando nanopartículas, as "tesouras" não poderiam estar "ligadas" desde o início. "Se eu injeto assim, o material o vai sair cortando tudo o que encontrar pela frente", diz. O caminho é aplicá-lo inativo no corpo e aciona-lo usando um campo magnético e uma fonte de luz, de comprimento específico, de modo a ir aumentando o controle", explica.

Futuro dos nanomateriais

Mais do que pensar em novos nanomateriais, Moura acredita que é preciso pensar em mais pesquisas. "Foi graças a estudos desenvolvidos há muitos anos que conseguimos, rapidamente, desenvolver soluções para a serem aplicadas no combate contra o covid-19", lembra. Um exemplo disso foram as máscaras antivirais feitas na UFSCar, que tiveram como fundamento estudos feitos oito anos antes com nanopartículas de prata. O pesquisador sonha também em ter mais acesso a supercomputadores, que podem revolucionar a velocidade com que os cientistas obtêm respostas. Moura sabe que é um privilegiado por usar o SDumont, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), um dos supercomputadores mais potentes do mundo. Mas, na ânsia por resultados, quer mais. "Desde o início da pandemia, voltamos nossas pesquisas para o estudo da covid-19", explica. "Fazer modelos realistas e as simulações com o vírus Sars Cov-2 é muito pesado. O tempo que tenho disponível já não é mais suficiente."

Fonte UOL: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/08/29/andre-farias-de-moura-o-cientista-que-criou-o-material-da-invisibilidade.htm

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